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Oitava entrega



La porta se abriu e de trás apareceu uno negrão de unos dois metros de altura vistiendo traje com galera cor azul e ouro. Lo tipo, de tão pukú-pukú, demorou cuasi uno minuto em se inclinar hasta lo suelo e facer uma reverencia, como si quisiese nos mostrar lo camino. La Lucy pasou moviendo lo uquelele ¡sucundúm sucundúm! e sin se detener, mirando pra lo negro apenas por encima du ombro, como si ele fose uma mosca, nos apresentou.

Zezão Pezão (dijo la rubia com sua voz de eireté hê´é que a mí me ponía elétrico-elétrico), estes são lo Sinforiano Ortiz e lo Cholo, dois maravishosos músicos de shas que a partir de agora vão ser lo plato forte du Hotel Fantástico. A lo negro se le blanquiou lo rostro de uma oreja a la outra, como si sua boca fose se comer sua cara, e comenzou a repeter: Zezão Pezão: pra les servir, Zezão Pezão: pra les servir...

Durante lo viaje nu taxi espavorido, la Lucy nos havía esplicado que lo Hotel Fantástico era coisa rara, algo así como la invensião dum outro mundo. Advertíu que cuando entrásemos deijásemos lo pasado afora du presente porque lo que lá dentro íbamos iniciar era lo futuro.

Nei bien atravesamos la porta, eu e lo Cholo sentimos uma patada nos huevos. Lo primeiro piso du hotel era uma mbaé verá guazú das raras artes. Uno espacio cuadrado, de unos ciem metros, com techos de vidrio, onde não havía nada que ficese pensar num hotel. Altas paredes brancas cobertas de cuadros pintados com merda de vaca, de hombre, de yacarés e bichos variopintos. Iluminacião bermeja e fumasa saliendo dus rincones, le dando a uno la sensacião de estar num verdadeiro inferno añarekó. Por toda parte, esculturas feitas com frutas e pedazos de fiambres: instalaciones montadas com bichos vivos: conejos: papagaios: chanchos: renacuajos... Num costado, uma imagen holográfica hiperrealista mostrando mulheres devorando hombres, nu meio duma selva: mulheres que depois se comíam entre sí, hasta que la última se comía a si mesmo...

¡AIAIAI! Vosé sabe que todo ese inferno añarekó era realmente de meter medo hasta a uno muerto. Tanto que eu, lo propio Sinforiano Ortiz, que nesa época era mais vivo e corajudo que lo supermán, temblei hasta lo karakú.

Te juro que eu ouviese salido disparando si não fuose por las tetas da Lucy: eses farolones que brillavam como dois kuarahy no medio das kuarahy´ã dese paisaje em descomposicião. Ouviese fuyido a toda velocidade si não fuose porque la rubia querendona me envolveu cuando empezou, com aires ñembofilosóficos, a explicar lo sentido da porquería. Tão lindo foi falando, falando, com sua voz de eireté he´ê que me ponia elétrico-elétrico, que me deijou tranquilinho, tal como si me ouviese cantado uno chamamé romántico.

Como uma doutora, la Lucy nos dijo, a mim e a lo Cholo, que lo que alí acontecía era uno museu du futuro. Entrar nele não sería apenas entrar, sinão ser parte duma entelequia artística. Em palavras dela, nesa tal de entelequia lo hecho estético acontecía na degradación ou descomposicião da mesmita materia da arte. Sua dinámica, realizada na fugacidade, sería sua imediata desaparicião. Toda uma conspiracião contra la forma como morte du instante. La obra de arte como uma porquería que todavía antes de ser terminada envejecía, se podría, emudecía, morría. Uma arte necrolática como alegato em favor da vida.

¡SISISI! ya sé que vosé estará pensando que eu não podía, nei poso, nei poderei nunca, jamais dus jamases, entender nei así du idioma da Lucy. Mas não é preciso que vosé pense tanto. É mejor que cierre sua boca barbuda, porque eu podería me enfurecer, e então, si te degüello das tripas au culo, lo pescuezo te saldrá pelo cogote . Mejor será que pongas teus ouvidos onde tuas orejas, e oigas. Pois vosé ya devería saber que eu sempre me importei apenas por la pu porã. Agora que estou morto, com mais razão. Pois la pu porã é carozo e au mesmo tempo pulpa dum durazno gostoso. Lo resto é viento que lo viento leva.

Mas la emocião que la Lucy me causou tentando explicar lo sentido da porquería como si me cantase uno chamamé romántico, não foi cuasi nada. Emocião mesmo foi la que me vino cuando comenzamos a subir la grande escalera de marmore blanco e de uno repente sentí uma purahéi explosiva que venía ¡CHUMBI-CHUMBI! baijando da terraza como uno incendio.

Me pareció ver las chamas que caiam como uma catarata, abrazando todo a su paso: ¡SHIKI-CHÍ, SHIKI-CHÍ, SHIKI-CHÍ, SHIKI-CHÍ! Lo grande fogo parecía empujado por uma bola de lata que baijava la escalerinha de marmole ¡TLA-TLA-TLA-TLA! picando em cada escalão e marcando lo pulso. Emcima de todo, entre chispazos, libremente danzava uma melodía alborozada ¡PIRIPÍ-PIPÍPI-RIPIPÍ-PIPÍ!

Cuasi caí redondinho ante esa purahéi tão desenfrenada cuanto lo chamamé. Cuasi me fui rolando escalera abaijo, com lo corpo encendido por lo fogo musical. Temblaron toditas las macetas de mi ser. Como si se me ouviesem afrojado unos parafusos, num lance de riesgo, agarré la Lucy por la cintura, le fice facer umas piruetas e exclamando ¡putaqueorpariu! ¡purahéi porã da são puta! la tirei pra arriba como se fuose uma pelotinha de goma, la atajé nu descanso da escalera, e alí mesmo comenzamos a danzar como dois desaforados.

Nu meio da danza, la Lucy me falou a la oreja que lo autor desa maravilha que se metía por meus ouvidos, por meus ojos e hasta por meus poros, era lo propio Dishéi Cachacón: mestre du ritmo, mburuvichá vanguardista da movida cachaqueira tecno-hard du caribe paraguayo.

Lo Cholo havía ficado num escalão, apenas mirando em seu estilo “quieto gato” que eu empezava a conocer. Mas de uno repente, não sei si se sentiu afetado por la música o qué coisa le pasou. Lo cierto é que agarrou sua zampoñita de tacuara e empezou a soprar e soprar uno gostoso yvytuí musical, siguiendo las inventaciones du DJ Cachacón:

mba´é ngururú
mba´é syryrý
mba´é sororó
mba´é chororó

Justo nese momento, nu medio da escalera du Hotel Fantástico, mientras eu danzava alocadamente com la Lucy au ritmo du DJ Cachachón, cuando lo Cholito empezou a soprar seu instrumento, aconteceu uma especie de contacto interestelar. Em mia zabeca foi algo así como si dois planetas chocasem nu bairro de La Boca. Se me acendierom todas las luces, ¡añamemby! todas las luces se me acendieron. Aí nomais larguei a la Lucy, agarrei minha cordiona de seis fileiras, me encomendé a noso grande pai Ñande Rú, a lo tata dios, a toditos los santos, e le entrei a sacudir chamamé y chamamé sobre cachaca tecno-hard...

Vosé não vai acreditar, mas ese sapy´ami ñembo ita verá em que eu abracei minha arrugada e comencei a tocar como si estiviese em piloto automático:

mba´é charãrã
mba´é pyambú
mba´é parãrã
mba´é guililí

ese sapy´ami michí, michimí, michí ra´ymi em que mia zabeca ficou virando e virando nu carrusel supersónico du chamamé cachaqueiro: ese cuasi suspiro, em que todo lo demais se me apagou como si eu ouviese entrado em coma 4, foi lo instante du nacimento da truculenta creatura chamada chamamé tropical, da cual eu, lo finado Sinforiano Ortiz, sou lo único, auténtico e verdadeiro pai. ¡AÑARETÃMEGUÁ, CARAJO!


(1) Em uno reciente mail-í, la escritora española-peruana-paraguaya Montserrat Álvarez me envió seu livro Underground. Parte du poema A una vieja, de dicho poemario, são los versos: “es mejor que cierres tu boca barbuda/ porque yo podría enfurecerme/ y entonces/ si te degüello de tripas a rabo/ el cuello te saldrá por el cogote”

Pukú: largo
Eireté: miel
He´é: dulce
Mba´é verá guazú: El dorado, la ciudad santa y brillante de los guaraníes
Añarekó: endemoniado
Karaku: tuétano
Kuarahy: sol
Kuarahy´ã: sombra
Ñembo: seudo
Pu: sonido, música
Porã: linda
Purahéi: canción
Mburuvichá: jefe
Yvytuí: vientito
Añamemby: hijo del diablo
Sapy´ami ñembo itá verá: instante de cristal
Michí: Chico
Michimí: Chiquito
Michí ra´ymi: hijo de lo chico
Añaretãmeguá: infernal