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Séptima entrega

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Lo taxi acelerou por Paseo Colón, subíu por Rivadavia, tomou Bolívar, depois Yrygoyen, Balcarce, Rivadavia e novamente se largou echando fogo por Bolívar. Así le ficimos uno moño rápido a la Praza de Mayo, que mi compadre lo Cholo quería me mostrar antes de nos zambullir na escuridão de São Telmo pra chegar a los fundus fondos de La Boca, lo bairro du clube azul e ouro dus meus amores. Seguimos hasta Brasil: viramos a la esquerda: baijamos a toda máquina hasta Paseo Colón: viramos a la direita: nos metimos em Brown: llegando a Brandsen, de nuevo a la direita: subir hasta Iberlucea: virar a la esquerda: facer apenas unos metros antes da nave se detener nu 532. Na frente de uno edificio mais antiguo que mia abuela, uno cartel facía tiqui-tiqui, deijando ler em palavras de lava ardente: HOTEL FANTÁSTICO - SIX STARS.

Eu estava que arreventava de emocião, com lo corazão retozando feito uno chamamé nu meu peito. Uno dus mais grandes soños de mia vida estava se faciendo realidade. Justamente, conocer lo bairro de La Boca e la Bomboneira havía sido lo motivo que me levou a juntar plata pra lo pasaje e corajem pra lo viaje, agarrar mia cordiona de seis fileiras e me subir nu trem branco chamado Grão Capitão, que me levantou em Paso de los Libres City e depois de mais ou menos tres días de viaje me deijou na Estacião Federico Lacroze.

Agora, reciém chegado a los Buenos Aires, eu estava alí, nu bairro azul e ouro dus meus amores, com lo sobolsi cheno de plata e lo peito inflado de orgullo e felicidade, baijando dum taxi espavorido com meu compadre lo Cholo e com la Lucy. La Lucy: esa rubia querendona que provocou aquele milagre milagroso nu trencinho fantasma. La mesma com la cual vosé, que sabe muito mais de mim que eu mesmo, e ya conoce meu caráter romanticón e cursi pelo cual me morí de uma morte súbita de amor no início desta novela, ya haverá maliciado hace rato que eu jamais dus jamases deijaría pasar oportunidade, despois que ela me mirase mborayhuhápe nu trencinho fantasma.

Mais se vosé también estava maliciando que eu não iba te contar lo que se pasou com la rubia mbarakayá-kÿrÿimi, fonte de minha maior inpiracião, que te trague lo culo du inferno. Si se te ocorre que agora que estou morto se me olvida contar los recónditos desta estória, lo karakú da novela de mia vida, que te coja lo Kurupí, pois agora mesmo amombe´upa la tembiasakué, pra arreventar lo chancho e te mostrar lo melhor du melhor du chamamé de todos los tempos.

Lo que aconteceu com la rubia querendona, foi que eu não perdí ela de vista nem uno segundo, nus 15 minutos que durou la improvisacião que com lo Cholo ficimos nu tren fantasma. De trás de meus antiojos negros eu ví ela me mirar muito mais mborayhuhápe cuando, feito uno ciego añarekó prodigio, comencei a sacudir los trapos da maravilhosa pieza General Madariaga, de don Ernesto Montiel. Ví como ela comenzou a mover lo corpo pra frente e pra trás, siguiendo lo compaso da música: le crecierom las pupilas hasta ficar cuasi mais grande que seus ojos: ficou paradinha discretamente num costado cuando lo bailongo explotou nu vagão: mirava pra mim e se relamía mientras marcava lo tempo com lo pie dereito. Finalmente, au me acercar a ela como uno mansito jaguapytã, com lo estuche de mia cordiana de seis fileiras cheno de pesos, dólares, patacones e hasta caramelos, vi que dentro de seus ojos havía 12.397 mujeres de cadeiras elásticas, todas elas queriendo danzar comigo uno bolero maroquero ou uno chamamé tropical.

Depois eu ví como ela, com grande delicadeza, abría sua carteira, sacava uno billete de 100 dólares e lo deijava caer nu estuche de mia cordiona de seis fileiras. Aí me deu uma desesperacião, umas ganas de le dar uno beijo em seu yurú-tembé carnoso e le inventar uno soneto chamameceiro, romanticón e cursi. Se me ocorreu que ela não acreditaria em versos de amor venidos de uno ciego, e que melhor sería primeiro le demostrar que eu vía plenamente sua lindura, e le deijar bien claro que sin ela lo milagro milagroso da música nunca ouviese acontecido:

oh rubia querendona que pagaste
muitu mborayhuhápe mia ceguera
eu poso demostrarte como era
mentira, mero engaño, ¡ciego un traste!

espero uno poema bien te baste
e não me vengas com que é zoncera
que iso se lo deijo a la mais fiera
pra vosé estos versos que ganaste:

92-62-90
son curvas que em teu corpo balancean
dejando mia zabeca que arrevienta

mias manos na cordiona pra que vean
que solo tua lindura viene a cuenta
e sin te ver lo chamamé se afea

Por sorte conseguí controlar lo impulso e não declamar em público lo soneto chamameceiro, pois alguém podía se sentir estafado e ficar muito pochy-pochy. Así que me guardei los versos na zabeca, e a la rubia querendona somente le dije obrigado. Mas cuando me virei pra ir embora, ela me agarrou pelo brazo e dijo que nosa música la havía levado a uno lugar maravilhoso, e que a modo de retribucião ela nos ajudaría a descender du trencinho fantasma a mí e a lo Cholo.

Quem sabe a qué lugar la música la havía levado a ela, mas a mí suas palavras me provocaram lo efeito de me sentir uno astronauta lanzado a lo espacio sideral. Se me hizo que iba pra arriba arriba dus cielos a la velocidade da luz, numa nave espacial. Ví que delante se cruzavam pajaros, aviones, nubes e estrelas, hasta que aterrizaba en uno lugar raro, cheno de marcianas poraité demais. Por último ví que eu baijava da nave e me ponía a danzar com las bichas, flotando em la no-gravidade, a lo ritmo de FM Chamamé 110,8 Mhz., uma señal que la NASA mandava en directo.

Logo despois de seu oferecimiento fiquei medio desorientado, flotando por unos segundos, mas enseguidita me compuse e la abracé. Ela rió mborayhuhápe e, com uma voz de eirete he´ê que eu nunca havía sentido, me dijo: eu sou la Lucy. Eu le dije que era lo Sinforiano Ortiz, correntino chamameceiro de nacimento e de corazão. Depois comencei a le contar todo lo que me havía acontecido desde que cheguei a los Buenos Aires, hasta haberme encontrado com ela em lo trencinho fantasma. Llegado lo momento le expliquei lo que me aconteceu cuando sua beleza me poseyó de forma tal que lo chamamé empezou a virar ¡zuuummmm zuuummmm! em mias venas, como uno linfocito enloquecido.

Mas eu ainda não havía chegado a esa parte deste capítulo da novela da minha vida, cuando ela nos levou a mí e a lo Cholo pra fora dus fundus fondos dus Buenos Aires. Estávamos parados na esquina de Corrientes e Alem cuando meu relato chegou a la parte em que eu veo que lo Cholo é uno cieguinho que ve muito bien cuando não le conviene, e eu le digo que también quiero ser uno músico ciego, e juntos decidimos montar uma sociedade de ciegos gua´ú. Nese insante ela ficou seria, com expresião de tristeza, como si algo se le ouviese quebrado nu corazão. Eu sentí muita pena e le oferecí de volta los cien dólares que nos havía dado. Ela respondeu que la plata não era lo problema.

Alí foi que subimos a lo taxi espavorido, porque lo Cholo dijo que si la plata não era lo problema, então não havía ningun problema, e que la fiesta era nu Hotel Fantástico, da calle Iberlucea, lo hotel mais espetacular du mundo todo, onde lo mundo todo quería ficar a viver.


Mborayhuhápe: cariñosamente
Mbarakayá: gata
Kÿrÿimi: tiernísima
Karakú: tuétano
Kurupí: dios o demonio de la sexualidad. Hombre pequeño, de cuero escamoso, orejas en punta, con los pies hacia atrás y una verga que le da varias vueltas a la cintura. Esta última virtud le permitiría embarazar a una mujer a la distancia
Amombe´upa: les voy a contar
Tembiasakué: historia
Añarekó: endemoniado
Jaguapytã: especie de onza o pantera colorada
Yurú (Jurú): boca
Tembé: labios
Pochy: enojo, enojado
Eireté: miel
He´ê: dulce
Gua´ú: falso